quarta-feira, 16 de abril de 2008

A EXPANSÃO MARÍTIMA E COMERCIAL

Durante os séculos XV e XVI, o continente europeu experimentou profundas trans­formações. Desde o século XI a Europa feudal passava, lentamente, por mudanças que atingiam todas as esferas da vida dos homens — as relações políticas, econômicas, culturais, religiosas e sua própria visão do mundo. No século XV, o sistema feudal e o universo medieval estavam em franco colapso, e o capitalismo estava dando seus passos iniciais.

As dificuldades com a mão-de-obra servil criaram possibilidade de crescimento da mão-de-obra livre e assalariada e do arrendamento de terras (for­mando pequenas propriedades rurais) em algumas regiões da Europa. As primeiras formas mais organizadas de expansão da navegação marítima, ligan­do o sul ao norte da Europa através do Atlântico, desenvolveram-se rapidamente após esse período de crise, a partir do sé­culo XV. Isso contribuiu para criar a pos­sibilidade de surgimento de novos centros comerciais, por exemplo, em Sevilha e Lisboa. Como já vimos, o controle dessas rotas era, no Me­diterrâneo, das cidades italianas (Gênova e Veneza), e, no norte da Europa, das ci­dades de Flandres.

Além das atividades comerciais, das novas classes sociais e do trabalho assala­riado, outro elemento que saiu fortalecido da crise do século XV foi a monar­quia centralizada. O enfraquecimento da nobreza feudal e o apoio da burguesia ao rei foram determinantes para a centrali­zação política por meio da monarquia.

Mas qual o interesse da burguesia em apoiar o rei?

A monarquia, na realidade, não significa­va naquele momento apenas a unificação po­lítica e jurídica, mas sobretudo a unidade de moedas, de impostos, de leis e normas, de pesos e medidas, e fronteiras legais. Com a instituição da monarquia centralizada, os mercados internos estariam definidos e a economia internacional parcialmente organizada.

E qual o interesse do rei?

Para o rei conseguir unificar seu reino e controlá-lo de forma permanente, ele ti­nha de lutar ao mesmo tempo contra os in­teresses locais dos senhores feudais e a autoridade e posturas universalistas da Igre­ja Católica. Por isso, era preciso montar um forte corpo burocrático (funcionários de alfândega, arrecadadores de impostos, juizes, diplomatas e administradores) e mi­litar (exército e marinha). As grandes casas comerciais já possuíam alguma experiência com a burocracia nacional e internacional, além do dinheiro para financiar o Estado.

Por isso, em diversos países a monar­quia colaborou na criação das Companhias Comerciais, concedendo-lhes monopólios sobre determinados produtos ou a exclusi­vidade de certas regiões, e desenvolveu uma política econômica protetora dos interes­ses burgueses, o mercantilismo.

Todavia, é preciso lembrar também que a nobreza apoiou a monarquia centralizada, be­neficiando-se diretamente de sua estrutura. Usufruindo os cargos e funções importantes ou honoríficas, a nobreza obtinha facilidades políticas e comerciais, além de concessões tribu­tárias, constituindo um segmento privilegiado dentro da estrutura do Estado.

Entre o desejo e a necessidade dos euro­peus de se lançarem à expansão marítima e sua real capacidade de realizá-los, existia uma distância muito grande.

Eles não conheciam os oceanos, não pos­suíam embarcações e instrumentos náuticos adequados para a navegação em mar aber­to, tinham conhecimento cartográfico pre­cário e não sabiam da existência de alguns continentes (América) e a dimensão real de outros (África e Ásia).

Mesmo com o relativo desenvolvimen­to científico da época proporcionando avan­ços técnicos (como o melhor uso da bússola, do quadrante, do astrolábio e da cartogra­fia) e a construção de instrumentos (como a luneta astronômica de Galileu e o relógio mecânico) que favoreciam as viagens marí­timas, estas continuaram verdadeiras aven­turas, cobertas de medo, mitos e lendas.

Qualquer viagem demorava meses, e as condições reais de sobrevivência nas em­barcações eram precárias e sempre povoa­das pelo temor do desconhecido.

Para esses numerosos viajantes, os ocea­nos e as terras desconhecidas estavam re­pletos de mistério, mitos e, às vezes, possibilidades de nova vida. A maioria das lendas e dos mitos foram criados e vei­culados ao longo da Idade Média, receben­do, por isso, forte influência da religião católica. Era muito forte na época, por exemplo, a ideia da existência de um paraí­so (ou Éden) criado por Deus, perdido em terras desconhecidas. Colombo chegou a acreditar que o havia encontrado, quando aportou no "Novo Mundo".

Havia também a lenda do Eldorado, ou seja, a terra repleta de prazeres e riquezas, onde quase tudo era feito de ouro: os con­quistadores espanhóis acharam que o ha­viam encontrado nas terras dos astecas e incas, em razão da abundância de ouro e prata. Na realidade, essas navegações também serviram para o homem alargar seus hori­zontes, desenvolver e acumular conheci­mentos. Isso modificou profundamente a visão e a compreensão do homem sobre si mesmo e o planeta.

As Grandes Navegações

A necessidade cada vez maior de obter matéria-prima para manufaturados e moedas levou os europeus a partirem para a navegação marítima, buscando novas rotas comerciais.

Os primeiros países a se lançarem na expansão marítima em busca de ampliação das atividades e das rotas comerciais foram Portugal e Espanha, seguidos pela Inglaterra, França e Holanda. Diversas razões de­terminaram o pioneirismo dos países ibéricos (Espanha e, principalmente, Portugal) na expansão marítima:

a) a localização estratégica da península Ibé­rica, voltada para o Atlântico, possibilitou que Lisboa, Porto, Sevilha e outras cidades da península se estruturassem como centros comerciais importantes durante o século XV;

b) isso significa que nesses dois países já existia uma burguesia ligada ao comér­cio, relativamente organizada e com pro­fundos interesses na expansão comercial;

c) a monarquia centralizou o poder na Espanha e em Portugal antes que em qual­quer outro país europeu, principalmente devido à guerra de Reconquista (contra os árabes-muçulmanos) entre os séculos XI e XII e pelas especificidades do feudalismo na península — a aliança, especialmente em Portugal, entre a incipiente burguesia comercial e a monarquia também foi ante­rior a qualquer outro país da Europa;

d) finalmente, a burguesia, apoiada pelo Estado, financiou uma série de estudos náuticos, astronômicos, cartográficos e também apoiou a construção naval.

Com a morte de D. Henrique (1460), as conquistas portuguesas no litoral afri­cano cessaram. As áreas ocupadas foram consolidadas com a organização de nume­rosas feitorias (entrepostos comerciais) e fortalezas, que asseguraram para Portugal o monopólio da região. Com o tempo, es­ses pequenos núcleos começaram a dar lu­cros, pois dali eram retirados marfim, ouro e escravos.

Sob o reinado de D. João II (de 1481 a 1495), a Coroa portuguesa iniciou os pre­parativos para alcançar os mercados india­nos através de uma rota costeando o litoral africano (o "Périplo Africano"). Diversas viagens foram realizadas com o objetivo de contornar a África para atingir as índias. As expedições portuguesas sempre seguiam em direção ao sul, para chegar aos limites do continente africano.

Em 1487-1488, o navegador Bartolomeu Dias chegou ao fim dessa etapa contornando o cabo da Boa Esperança, no extremo sul do con­tinente. Assim, ele alcançou a costa oriental da África e abriu definitivamente a possibilidade de uma nova rota para as índias.

Todavia, em 1492 o navegador Cristó­vão Colombo, em nome da Coroa espa­nhola, descobriu novas terras (o continente americano), que foram erroneamente con­sideradas como parte da Ásia. Esse fato preocupou Portugal, que temia, no futu­ro, o poder da Espanha nas índias e a per­da do monopólio da rota africana para aquela região.

O possível conflito entre as duas Coroas foi resolvido após algumas negociações, em 1494, com o Tratado de Tordesilhas, que estabelecia as áreas de domínio de cada país. O marco de separação ficou estabe­lecido a 370 léguas a ocidente do arquipé­lago de Cabo Verde (no oceano Atlântico): a leste do meridiano, o monopólio das ro­tas de navegação e as terras seriam de Por­tugal e a oeste, da Espanha.

Somente dez anos depois, seguindo pela mesma rota de Bartolomeu Dias, Vasco da Gama chegou a Calicute, Índia, estabele­cendo a rota marítima para as índias (1497-1498) através do continente africano.

O sucesso de Vasco da Gama permitiu a Portugal lutar concretamente pela hege­monia comercial nas índias. Para tanto, a Coroa organizou a maior e mais bem equi­pada frota que já saíra de portos lusitanos em direção ao Oriente: a esquadra comandada pelo capitão-mor Pedro Álvares Cabral.

Durante a viagem, algumas caravelas "distanciaram-se" do litoral africano, le­vando Cabral a aportar no Brasil em 22 abril de 1500. Em 2 de maio, ele partiu do litoral baiano para Calicute (Índia). Lá che­gando, bombardeou a cidade e iniciou o do­mínio lusitano no comércio oriental.

A Espanha começou sua ex­pansão pelo Atlântico com cer­to atraso em relação a Portugal, principalmente devido ao pro­longamento da guerra de Reconquista (o último reino conquistado foi Navarra, em 1492), que acabou atrasando a centralização do Estado espanhol.

Os avanços e sucessos da expansão ma­rítima portuguesa influenciaram o progres­so da navegação na Espanha. No entanto, os espanhóis não contavam com pessoas ca­pacitadas (geógrafos, navegadores e cons­trutores de navios) para seu desenvolvimento; por isso, foram buscar a experiência de por­tugueses e italianos.

Um desses navegadores estrangeiros se­diados na Espanha ganhou a confiança da Coroa espanhola para desenvolver um projeto ao mesmo tempo fantasioso e ousado para a época. O genovês Cristóvão Colombo acreditava que a Terra era redonda e, por­tanto, seria possível alcançar as índias via­jando sempre para oeste. Hoje sabemos que sua teoria estava correra, mas ele não sabia da existência de um extenso conti­nente (a América) entre a Ásia e a Europa, o que impediu a plena realização de seu projeto.

As descobertas de Colombo desenca­dearam uma disputa entre Portugal e Espanha e o crescimento, nas duas décadas seguintes, da navegação marítima espanho­la. Em 1499, o piloto florentino Américo Vespúcio partiu, a serviço da Espanha, em uma de suas viagens para o Ocidente e con­firmou que as "novas terras" eram realmente um novo continente, a América.

A expansão marítima dos outros países europeus

Durante todo o século XVI, o monopó­lio das navegações à América esteve nas mãos de Portugal e Espanha. Países como a Fran­ça e a Inglaterra estavam atrasados porque durante o século XV enfrentaram vários pro­blemas que dificultaram as navegações, en­tre os quais a Guerra dos Cem Anos.

Os franceses tentaram achar uma pas­sagem para o Pacífico através do Atlântico norte, nas viagens de Juan Verrazano (à Nova Inglaterra, em 1524) e Jacques Cartier (ao Canadá, em 1534). Sem con­seguir sucesso, eles se entregaram à pira­taria, principalmente no Brasil (Maranhão e Rio de Janeiro) e, mais tarde, à forma­ção de colônias na América do Norte.

Os ingleses também procuraram uma passagem para a Ásia pelo extremo norte do continente americano e pelo mar do Norte (1553, Richard Chancellor). Cabot, a serviço da Coroa inglesa, navegou por quase toda a costa leste da América do Norte e nada encontrou nesse sentido. Já o navegador Francis Drake realizou uma viagem bem-sucedida em torno do mun­do: em 1578 percorreu todo o litoral da América do Sul e a costa oeste da América Central e da América do Norte, seguindo para o continente australiano (1579); em 1580 retornou à Inglaterra.

Sem conseguir atingir a Ásia por outra rota, a Inglaterra partiu, na segunda meta­de do século XVI, para a pirataria contra a Espanha, oficializada pelo Estado inglês. Os piratas ingleses ficaram conhecidos como corsários, pois recebiam a Carta do Corso (corso = ataque e caça a navios mercantes), e proporcionaram altos lucros para a Coroa. Nessa mesma época a In­glaterra iniciou seus negócios no tráfico de escravos, da África para a América.

Se as navegações francesas e inglesas no continente não alcançaram um êxito imediato, pelo menos serviram para inici­ar a ocupação do litoral da América do Norte, que mais tarde seria explorado.

A Holanda realizou algumas viagens exploratórias pelo mar do Norte e de Barents, que sempre esbarraram na região gelada do norte. A atuação dos holandeses na expansão marítima ocorreu de maneira mais indireta. Eles financiaram, por exem­plo, a expansão ultramarina de Portugal, a instalação da indústria manufatureira de açúcar no Brasil e seu refinamento e comercialização na Europa. Na segunda metade do século XVI, a Holanda também iniciou seus negócios altamente lucrativos no tráfico de escravos africanos para a América.

5 comentários:

n* disse...

muito bom!!

Unknown disse...

Parabéns!Eu estava procurando uma coisa e eu achei ,por isso MUITO BEM continuem escrevendo assim e nem o que eu estava procurando acabei lendo e achei bem interessante , e as palavras muito bem usadas!PARABÉNS
vou indicar esse site pra outras pessoas.A minha nota é 10

Unknown disse...

está bom, mas eu ainda naum achei quem financiou a expansão portuguesa!

Anônimo disse...

eu gostei mais não achei quem financiou portugal e a europa

Anônimo disse...

nao achei quem financiou portugal e espanha.
pessimo.