Na transição do feudalismo para o capitalismo a Rússia foi um dos países que reforçaram os laços de servidão, em vez de incorporar o trabalho livre e assalariado. A Rússia se manteve como um país agrário de base feudal até a metade do século XIX, quando começou a se industrializar. Politicamente o poder estava concentrado nas mãos do imperador (czar), sustentado pela aristocracia agrária.
A Rússia, nesse período, era o maior país da Europa, com cerca de 170 milhões de habitantes distribuídos por uma extensa área que abrangia desde a Europa oriental até o extremo leste da Ásia. Nesse vasto império conviviam inúmeras etnias, culturas e nações, a maioria delas de estrutura rural.
Com a rápida industrialização, as contradições de suas estruturas econômicas, políticas e sociais tornaram-se mais evidentes, obrigando, em 1861, à realização de algumas reformas, como a abolição da servidão e o início de uma reforma agrária. Entretanto, elas resolveram apenas os problemas dos proprietários rurais (kulaks), deixando de lado os camponeses, o reduzido operariado, as diversas etnias, etc.
Essa reforma inicial foi efetivada pelo czar Alexandre II (1855-1881), assassinado em 1881. Sua morte levou ao poder Alexandre III, que realizou um governo duro e opressor. Sua polícia política (Okhrana) passou a controlar a vida do país, promovendo perseguições, banimentos, deportações e mortes.
As forças políticas da Rússia, nesse momento, começavam a se organizar em diversos movimentos como os eslavistas (identificados com o czarismo, não aceitavam as ideias ocidentais), os ocidentalistas (apesar de politicamente conservadores, aceitavam as influências ocidentais), os populistas (também conhecidos como narodniques) e os marxistas (de diversas tendências).
O governo de Nicolau II (1894-1917) acelerou o processo de modernização da Rússia, baseado no capital estrangeiro; as indústrias e os centros urbanos cresceram e a rede ferroviária se estendeu pelo país. Nesse processo de modernização, a miséria dos camponeses e operários também proliferou pela Rússia. Apesar da industrialização, a burguesia russa ainda era muito fraca e por isso não conseguia se opor à aristocracia e ao autoritarismo do czarismo.
As insatisfações aumentavam e o governo respondia com mais repressão e perseguição à oposição. Na verdade, as forças de oposição foram praticamente expulsas da Rússia.
Nesse período foi criado o Partido Social-Democrata Russo (1898), de orientação marxista, que crescia com a adesão de intelectuais, operários e camponeses. A maioria de seus líderes estava no exílio e por isso o partido realizou uma convenção em 1903 na cidade de Londres com a presença de Lênin, Plekanov e outros. Na convenção surgiram algumas divergências que originaram duas tendências no partido: de um lado os defensores de um partido de militantes e centralizado, favorável à luta armada como forma de chegar ao poder na Rússia, conhecidos como bolcheviques (que significa "maioria"), liderados por Lênin; os mencheviques ("minoria"), liderados por Martov, queriam um partido aberto que assumiria o poder de forma pacífica e natural, através do convencimento e de eleições. As divergências entre essas duas correntes tornavam-se insustentáveis à medida que o processo político e social russo se agravava.
A situação política e econômica russa se agravou com a guerra contra o Japão (1904-1905). A derrota diante dos Japoneses evidenciou as debilidades do czarismo e colaborou para unir operários, camponeses, burguesia, classe média e soldados na luta contra o autoritarismo e a crise.
A burguesia e a classe média se organizaram no Partido Constitucional Democrático (ou Partido Kadete) e passaram a reivindicar reformas sociais, econômicas e, sobretudo, políticas.
O agravamento da crise fez explodir inúmeras revoltas populares por toda a Rússia, no final de 1905. Em grande parte elas foram organizadas por comitês formados por diversos segmentos da sociedade (soldados, camponeses e operários), denominados sovietes. Um dos fatos desse período que se tornou famoso foi o levante dos marinheiros do Encouraçado Potemkin, que se apossaram do comando do navio no mar Negro.
Diante da pressão popular, o czar Nicolau II foi obrigado a fazer algumas concessões, como a convocação de uma Assembleia Constituinte (conhecida como Duma) eleita pelo voto. Entretanto, ele tratou de neutralizá-la e continuou mantendo a repressão contra os movimentos populares até 1912.
A entrada da Rússia na guerra, em 1914, agravou o quadro político interno: milhões de soldados foram mobilizados e mortos, a indústria voltou-se para a produção bélica, a agricultura sofreu tremendamente. Como consequência, os alimentos e produtos industrializados subiram de preço, gerando inflação; o desemprego nas cidades crescia; o êxodo rural aumentava por causa da fome no campo.
As derrotas de 1915 enfraqueceram ainda mais a Rússia. Em
Os movimentos de oposição multiplicavam-se pelo país. Na Duma, a burguesia e parte da aristocracia colocavam-se contra o czar; nas ruas o povo começava novamente a se manifestar. A Rússia estava a um passo de uma revolução que marcaria a história do mundo contemporâneo.
Em fevereiro de 1917 as greves e revoltas multiplicaram-se, principalmente
As tropas enviadas para reprimir as revoltas se recusaram a atirar na multidão, aderindo às manifestações. Nesse processo, os partidos de esquerda que viviam na clandestinidade assumiram o comando de algumas manifestações. O soviete de Petrogrado é reorganizado e participam dele bolcheviques e mencheviques, entre várias correntes, cabendo a vice-presidência ao menchevique Kerenski.
Com as revoltas nas ruas e o exército amotinado, só restava ao czar Nicolau II renunciar, o que aconteceu em 27 de fevereiro de 1917.
Com a renúncia do czar, a Duma ganhou uma representatividade maior e organizou o governo provisório, presidido pelo príncipe liberal Lvov. Kerenski foi convidado a participar do governo e logo se tornou o homem forte.
Os exilados, como Lênin e Trotski, retornaram à Rússia pregando o fortalecimento dos sovietes. Os bolcheviques, liderados por Lênin, queriam que os sovietes se tornassem o centro do poder político popular do país. Os mencheviques avaliavam que os movimentos populares não estavam preparados para assumir o poder.
Assim, iniciou-se uma disputa pelo poder entre a Duma (e seu governo provisório) e os sovietes.
Em maio o príncipe Lvov cedeu às pressões e se demitiu; Kerenski assumiu a direção do governo provisório. As derrotas na guerra contra a Alemanha continuavam, dificultando ainda mais o quadro político interno.
Mencheviques, bolcheviques e o Partido Kadete percebiam a fraqueza do governo provisório e disputavam o poder. Bolcheviques (em julho) e kadetes (em setembro) tentaram chegar ao poder através de golpes, contidos pelo governo.
Gradativamente os bolcheviques ganhavam adesões entre soldados e camponeses, assumindo o comando de diversos sovietes, principalmente o de Petrogrado. Os bolcheviques organizavam-se para tomar o poder. Trotsky organizava a guarda vermelha e Lenin, de volta do segundo exílio defendia as Teses de Abril que proclamavam “Todo poder aos sovietes.”
Em 24 de outubro de 1917 os bolcheviques iniciaram a revolução em Petrogrado, tomando edifícios públicos e fábricas. O movimento se espalhou pelo país e o governo provisório foi deposto; Kerenski fugiu da Rússia em 25 de outubro.
Imediatamente foi convocado o II Congresso dos sovietes, com maioria bolchevique; Lênin assumiu a liderança do novo governo. Assim, a primeira revolução socialista da história era vitoriosa, mas começavam as dificuldades para impantá-la.
Ao tomar o poder, os bolcheviques iniciaram as reformas nas estruturas da Rússia. O novo governo, liderado por Lênin, nacionalizou os bancos e estradas de ferro, as fábricas passaram para o controle do governo e dos operários, as terras foram distribuídas aos camponeses. Trotski reorganizou o exército (Exército Vermelho) e a polícia política.
Uma grande questão era a continuação da Rússia na guerra. Lênin se opunha e Trotski era favorável. A paz de Brest-Litovsky, retirando a Rússia da guerra, foi assinada em março de 1918, mas os problemas ocasionados por ela permaneceram.
Em julho de 1918 foi aprovada a Constituição que estabeleceu a forma do novo país: uma República Federativa Socialista. No entanto, ela não foi colocada em prática por causa das dificuldades internas. Somente em 1922, com uma nova Constituição, surgiria a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
A consolidação do novo regime não foi fácil. A oposição à revolução socialista se organizava para derrubar o governo socialista. Os contra-revolucionários, na maioria ex-czaristas, organizaram o Exército Branco, conseguindo ajuda externa, pois muitos países temiam o avanço do comunismo pelo resto do mundo.
Trotski fortaleceu o Exército Vermelho e combateu os contra-revolucionários, gerando uma autêntica guerra civil. Os confrontos duraram até 1921, quando o Exército Vermelho chegou à vitória.
Durante a guerra civil Lênin foi obrigado a realizar uma política radical (apropriação de bens e terras, regulamentação da produção, etc.), conhecida como comunismo de guerra, paralisando a economia do país para combater os contra-revolucionários.
Após a vitória de 1921 ele começou a pensar na planificação da economia do país, o que acabou redundando
A morte de Lênin, em 1924, desencadeou na URSS uma forte disputa pelo poder entre Stalin, secretário-geral do Partido Comunista, e Trotski, um dos líderes da Revolução de Outubro e Comissário de Defesa da URSS.
A divergência entre os dois nasceu das propostas sobre o futuro da revolução. Trotski pregava a continuidade da revolução socialista em outros países, pois do contrário a URSS ficaria isolada e poderia ser combatida pelos países capitalistas; por isso ele defendia o caráter internacionalista da revolução ou a revolução permanente. Stalin, ao contrário, pretendia consolidar a revolução socialista na URSS para depois estendê-la a outros países; era a política do socialismo em um só país.
Stalin saiu vitorioso na disputa e assumiu o poder em 1928. Trotski foi perseguido pelo novo governo e teve que se exilar no México, onde foi assassinado a mando de Stalin em 1940, por um agente conhecido como Ramón Mercader.
Com Stalin no poder, a URSS desenvolveu-se rapidamente e tornou-se uma potência mundial, mas em contrapartida houve uma excessiva centralização do poder, o culto à personalidade e um governo autoritário e sangrento.
Durante o governo de Stalin a economia soviética desenvolveu-se bastante, principalmente em razão dos planos qüinqüenais. Em 1921 havia sido fundado o Gosplan, um órgão encarregado de elaborar planos econômicos de longa duração, em geral de cinco anos.
Entre a Primeira e a Segunda Guerra foram colocados em prática dois planos quinquenais.
• Primeiro plano quinquenal (1928-1932). Pretendia aumentar a produção agrícola e industrial, principalmente da indústria de base, e acabar com a propriedade privada, por meio da coletivização. No campo surgiram os sovcoses, fazendas estatais onde o camponês era assalariado, e os kolcoses, cooperativas onde o camponês tinha um pequeno pedaço de terra para produzir.
• Segundo plano quinquenal (1933-1937). A partir do segundo plano a URSS já havia crescido muito, tornando-se uma das potências industriais do mundo. Novos investimentos, tecnologia mais avançada e um planejamento mais homogêneo permitiram o crescimento da economia soviética, embora o padrão de vida do trabalhador soviético continuasse pior que os padrões do mundo capitalista.
Quando o terceiro plano começava a vigorar, teve início a Segunda Guerra Mundial, e a URSS, que já era uma das maiores potências políticas e econômicas do mundo, foi obrigada a voltar toda a sua economia para a produção bélica.
No campo político o stalinismo concentrou todos os poderes no Partido Comunista, comandado por Stalin. Ele criou um forte esquema de culto à sua personalidade, de técnicos e burocratas que viviam à custa do Estado, e passou a perseguir seus adversários políticos. Em meados da década de 1930 os expurgos foram extremamente violentos, com a morte de milhares de seus opositores. Gradativamente, à medida que a economia crescia, uma pequena parcela da população concentrava riquezas e poder: a alta hierarquia do PCUS, os técnicos e a burocracia estatal, que se tornaram uma elite no regime soviético.
Em síntese, Stalin acabou formando na URSS um governo elitizado com características totalitárias, que seriam desvendadas somente na década de 1950. Esse processo acabou criando a primeira grande crise no marxismo ocidental. Boa parte dos marxistas ficou espantada com o grande terror e opressão do stalinismo, incompatível, segundo eles, com os ideais socialistas.
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