segunda-feira, 10 de setembro de 2007

PERÍODO ENTREGUERRAS: A CRISE MUNDIAL DO CAPITALISMO

O período chamado de entreguerras recebe essa denominação porque se estende do final da Primeira Guerra Mundial (1918) até o início da Segunda Guerra Mundial (1939).

A Primeira Guerra Mundial determinou o fim de um quadro his­tórico construído ao longo do século XIX, quando os países imperialistas europeus dispu­tavam a hegemonia mundial. A Primeira Guerra alterou profundamente esse contexto, pois os países europeus perderam espaços políticos, dando oportunidade para o surgi­mento de novas potências como os EUA e a URSS.

Todavia, as marcas deixadas pela guerra atingiram o mundo todo. A crise do sistema capitalista mantinha-se, apesar do crescimento da década de 1920, especialmente dos EUA. No rastro da guerra ocorreu a crise econômica de 1929, que teve início nos EUA mas afetou o mundo todo.

Após a grande depressão, o capitalismo assumiu outras características. Marginalizan­do alguns princípios liberais, o Estado assu­miu um papel mais importante no planejamento econôico, tanto nos países democráticos, como EUA e Inglaterra, quan­to nos totalitários, como Alemanha e Itália. Acompanhando a crise geral do capitalismo, a democracia liberal também se tornava ins­tável, especialmente a partir da década de 1930. Esse período apresentou o surgimento de ideologias e movimentos totalitários e seu fortalecimento na Europa. O nazismo alemão e o fascismo italiano, com objetivos expansionistas, surgiram como novos "fantasmas" que rondavam a Europa, apontando para mais um confronto político e militar.

De maneira geral, a Primeira Guerra Mundial não resolveu os problemas eco­nômicos e sociais da Europa. Pelo contrário, vitoriosos e derrotados tiveram enormes dificuldades em reconstruir seus países.

No entanto, os EUA conseguiram sair da guerra com um saldo positi­vo. O primeiro fato importante para isso foi que eles entraram na guerra somente em 1917 e não tiveram seu território diretamente atingido.

Nos anos que antecederam seu in­gresso no conflito, os EUA desenvol­veram-se rapidamente. Seus concorrentes diretos na produção industrial (Inglater­ra, França e Alemanha) eram os princi­pais protagonistas da guerra, deixando o mercado internacional aberto. Como os EUA estavam distantes dos confrontos, acabaram se tornando, com o tempo, os maiores fornecedores de armas (desenvol­vimento da indústria bélica), alimentos (progresso da agricultura), matérias-primas e capital (crescimento e expansão dos bancos) para os aliados europeus.

A dependência da Europa com relação aos EUA se tornou tão grande durante a guerra que após seu final quase todo o dinheiro da indenização alemã paga à In­glaterra e à França foi enviado aos norte-americanos para cobrir as dívidas. Por outro lado, o capital para a reconstrução dos países europeus veio basicamente dos EUA, re­forçando os laços de dependência.

Foi assim, portanto, que os EUA conse­guiram desenvolver suas indústrias, sua agri­cultura e ainda acumular capital suficiente para emprestá-lo novamente. A produtivida­de do país crescia em todos os setores. Tudo isso gerou grande euforia naquele país.

Todavia, todo esse crescimento acabou se tornando descontrolado. A produção au­mentava muito, motivada também peos avanços tecnológicos; o país vivia um qua­dro de superprodução e o poder de compra de seus habitantes não o acompanhava.

Agravando ainda mais a situação dos EUA, os países europeus recuperavam suas ativídades econôicas, diminuindo o nível de importações e concorrendo no mercado internacional. Assim, a produção norte-americana encontrava dificuldades de escoamen­to, permanecendo nas prateleiras e dando início a um processo de desestabilização da economia.

A CRISE DE 1929

O presidente Herbert Hoover, eleito em 1928, procurando proteger o mercado in­terno, elevou as taxas de importação, origi­nando uma reação igual na Europa. Isso dificultou ainda mais o comércio de expor­tação norte-americano.

Tentando evitar a queda dos preços, o setor agrícola armazenou a produção, au­mentando os preços internos dos alimen­tos. A indústria freou a produção, gerando, conseqüentemente, o desemprego.

Os investidores, pequenos, médios e grandes, estavam habituados a aplicar seu dinheiro em ações, produzindo forte espe­culação na Bolsa de Nova Iorque. Porém, com um quadro de crise se desenhando, o preço das ações começou a cair e todos pro­curaram vendê-las rapidamente, originan­do uma brusca queda.

O processo chegou a tal ponto que nin­guém mais comprava e as ações tornaram-se papéis sem valor algum. Assim, a Bolsa de Valores de Nova Iorque acabou quebran­do (o crack da Bolsa), e o fato repercutiu no mundo inteiro.

O crack da Bolsa provocou a falência de milhares de empresas norte-americanas — ban­cos e indústrias (cerca de 90 mil) —, arruinou agricultores, pequenos e grandes proprie­tários, e gerou um brutal desemprego (cerca de 15 milhões de desempregados). A depres­são econômica dos EUA atingiu rapidamente o mercado internacional, levando o capitalis­mo a uma crise sem precedentes, com sérias repercussões políticas no mundo inteiro.

O NEW DEAL

A grande depressão econômica perma­neceu até o final do governo do republicano H. Hoover (Partido Republicano). Esse qua­dro crítico favoreceu a eleição do democrata Franklin Delano Roosevelt (Partido Demo­crata) em 1932, que prometeu profundas re­formas para solucionar a crise.

Ao assumir o governo, o presidente Roosevelt implantou uma nova política eco­nômica, o New Deal (Novo Acordo), inspi­rada na teoria do economista inglês John Keynes (1883-1946), em que o Estado ga­nhou o papel de planejador, intervindo diretamente na economia. O maior país capitalista do mundo deixava, assim, as pos­turas liberais e aceitava a intervenção estatal.

Ao lado de técnicos, especialistas e econo­mistas, ele tratou de implementar um progra­ma de emergência (os célebres "Cem Dias"). A seguir, com a economia minimamente or­denada, adotou medidas mais drásticas.

O Estado assumiu o controle da produ­ção industrial e agrícola, fixando os preços dos produtos; criou instituições de crédito para conceder empréstimos a bancos, indústrias e proprietários agrícolas; iniciou um grande programa de obras públicas para absorver a mão-de-obra ociosa; regulamentou as relações de trabalho, diminuiu as horas de trabalho e legitimou os sindicatos; criou um vasto sistema de assistência, com a dinamização da previdência social e a criação do seguro-desemprego.

As reformas do New Deal duraram até 1935 e mostraram-se bastante eficientes, re­cuperando a economia norte-americana e beneficiando os trabalhadores. Entretanto, a situação de instabilidade persistia e uma das alternativas foi reaquecer a indústria de armamentos, uma vez que o quadro políti­co internacional apontava para um novo conflito.

A INGLATERRA

Após a Primeira Guerra a Inglaterra se encontrava em sérias dificuldades econômicas, gerando inúmeras greves (como a de 1918, que mobilizou cerca de 2 mi­lhões de trabalhadores). O país mais rico e mais forte do mundo entrava em deca­dência. Para solucionar a crise procurou-se aumentar a produção industrial e a participação da Inglaterra no comércio in­ternacional, com algum sucesso. No en­tanto, os problemas sociais permaneciam, reforçando os movimentos sindicais e o Partido Trabalhista, que chegaria a ocu­par algumas vezes o Gabinete do primeiro-ministro, tornando-se a novidade política do período.

Em 1918 foi eleito (pela primeira vez com a participação eleitoral das mulheres) o primeiro-ministro Lloyd George, por uma coligação de liberais e conservadores. Entre 1923 e 1935, conservadores e liberais reve­zaram-se no poder.

A partir de 1937 a situação política eu­ropéia tornou-se crítica em razão do forta­lecimento do nazismo e da expansão da Alemanha; a Inglaterra procurou reorgani­zar seus exércitos e se preparar para um novo conflito militar.

A FRANÇA

A situação da França foi bastante se­melhante à da Inglaterra no período entreguerras, apesar de alguns saldos po­sitivos em termos econômicos (indenizações de guerra da Alemanha) e territoriais. O país levou algum tempo para re­organizar sua economia, gerando proble­mas sociais. Os empréstimos externos para reestruturar o país começavam a pesar na economia.

A França viveu uma situação política ins­tável de 1919 a 1936, com setores conser­vadores e progressistas revezando-se no poder. Em 1936, sob ameaça de avanço das forças fascistas, os partidos comunista, so­cialista e republicano uniram-se numa Fren­te Popular (Front Populaire) e venceram as eleições, elegendo o socialista Léon Blum (1936-1937).

Apesar de algumas reformas sociais, a frente de esquerda não conseguiu manter-se unida; o Partido Comunista, por exemplo, saiu do governo e passou a li­derar greves. Novos governos progressis­tas se sucederam até 1938, quando os conservadores voltaram ao poder com Daladier, um governo fraco interna e ex­ternamente.

No quadro político europeu a França co­meçava a ter dificuldades com algumas pres­sões da Alemanha e dava início a uma corrida armamentista.

O JAPÃO

O notável desenvolvimento do Japão na virada do século foi paralisado no pós-guerra. Durante a década de 1920 o Japão pas­sou por uma profunda crise econômica, agravada em 1929. Tal situação gerou de­semprego, falências e inflação.

A situação política e social se agravou em razão da crise econômica. A estabilidade po­lítica, sustentada na prática por um bipartidarismo (Partido Conservador e Partido Liberal) e pelo apoio de grandes empresas, foi abalada pelas greves e pelo crescimento eleitoral dos socialistas. Os governos nessa década se sucederam, como na Europa, sem resolver os problemas mais sérios.

O exército surgiu no Japão como uma força política alternativa fora do Parlamen­to, constituindo até um poder paralelo. Ba­seado em sociedades secretas, ele se tornou direitista e nacionalista.

Em 1936, a desvalorização do iene me­lhora a situação econômica do país, que, no entanto, não reúne condições para concorrer no mercado internacional, porque os países ocidentais criavam todo tipo de dificuldade para o intercâmbio comercial com o Japão, gerando insatisfações no go­verno japonês.

Um golpe militar de extrema direita e nacionalista, reprimido pelo governo do im­perador Hirohito, evidenciou o confronto político entre militares e Parlamento. O im­perador procurou contornar a situação, ten­tando formar um governo de direita, com um militar como primeiro-ministro. Apoiados pela população, os militares dominaram o Ja­pão até 1941, empreendendo uma política expansionista no Oriente e agravando ainda mais o quadro político internacional.

Um comentário:

Camilla disse...

Muito obrigada, me ajudou muito no meu trabalho sobre a Crise de 1929