Após a Segunda Guerra, o mundo cristalizou algumas tendências que já haviam se manifestado no período entreguerras:
· como a guerra se concentrou basicamente na Europa, as perdas materiais e as dificuldades econômicas para sua reconstrução levaram os países europeus à decadência definitiva como potências mundiais;
· o conflito Leste-Oeste, produto do surgimento de duas superpotências econômicas e bélicas que disputariam a hegemonia política e ideológica sobre o planeta (EUA, capitalista, e URSS, socialista), tornando o quadro político internacional extremamente tenso até a década de 1980;
· crescimento da economia mundial baseado em incríveis transformações tecnológicas, que foram incorporadas imediatamente ao cotidiano das pessoas;
· e, finalmente, as desiguais relações Norte-Sul, isto é, houve a definição clara de uma ordem internacional com crescente distanciamento entre os países ricos (do Primeiro Mundo, grosso modo localizados no hemisfério norte) e os pobres (do Terceiro Mundo, em geral no hemisfério sul).
No fim da guerra a Europa se encontrava completamente destruída: milhões de mortos, parques industriais e regiões agrícolas arrasados, cidades desestruturadas, desemprego, dívidas enormes, economia instável e sérios problemas sociais.
Em contrapartida, mais uma vez os EUA saíram beneficiados com a guerra e estavam em condições de financiar a recuperação dos países destruídos pelo conflito. A URSS, com um forte exército e um papel determinante para a vitória sobre a Alemanha na Europa oriental, surgia como força política. Os acordos que estabeleceram a nova ordem mundial foram influenciados por essa realidade.
O primeiro acordo foi o da Conferência de lalta, que reuniu na cidade de lalta (URSS), em fevereiro de 1945, Roosevelt (EUA), Stalin (URSS) e Churchill (Inglaterra), representantes dos três grandes países vitoriosos. Nesse acordo foram definidos os avanços das novas fronteiras soviéticas (Estados Bálticos e leste da Polônia) e sua influência na Europa oriental (Polônia, Romênia, Tchecoslováquia, Hungria, lugoslávia e Bulgária).
A segunda reunião dos três países ocorreu
Na verdade, a ONU serviu durante anos de órgão legitimador da política externa dos EUA, que sempre podiam garantir a sustentação de suas posições na Assembleia Geral e no Conselho de Segurança.
A próxima conferência mundial ocorreu em Potsdam (Alemanha), em julho de 1945, e definiu a divisão da Alemanha e da capital (Berlim) em quatro áreas a serem ocupadas por França, Inglaterra, EUA e URSS. O objetivo principal era a ocupação para a "desnazificação" e a recuperação da Alemanha. Entretanto, a partir desse acordo se evidenciou a nova correlação de forças mundial: na região a oeste da Alemanha, os países capitalistas ocidentais, e no leste, a URSS. Essa conferência deu início à Guerra Fria e à divisão entre Alemanha Ocidental (RFA — capitalista) e Oriental (RDA — socialista), formalmente estabelecida em 1949. Como Berlim ficava no leste da Alemanha, a cidade também foi dividida em duas áreas, Oeste (capitalista) e Leste (socialista).
Esses acordos do pós-guerra estabeleceram o novo mapa geopolítico da Europa, dividindo-a em dois blocos, que sobreviveriam até o final da década de 1980: de um lado a expansão e o fortalecimento da URSS e, conseqüentemente, do socialismo, na parte oriental; na ocidental, um bloco de países capitalistas.
A Doutrina Truman e o Plano Marshall
Após a Conferência de Potsdam, a bipolarização começou a tomar corpo, pois os avanços e o fortalecimento da URSS na Europa podiam criar uma série de dificuldades para o capitalismo e os EUA. A política norte-americana, então, começava a mudar.
Em discurso no Congresso americano (1947), o presidente Truman traçou as linhas gerais da nova política externa dos EUA: conter a URSS e o comunismo e assumir a liderança na "defesa" intransigente do Ocidente, da democracia e do capitalismo.
O desdobramento imediato da Doutrina Truman foi a concretização do Plano Marshall (1947). Graças à colaboração econômica e financeira dos EUA, os países europeus foram reconstruídos, reequilibraram suas economias e voltaram a crescer. Internamente houve também um grande esforço dos europeus para reconstruir seus países e implantar a democracia.
Esse intenso trabalho de recuperação conjunta da Europa no pós-guerra acabou redundando na criação de alguns acordos e tratados internos. Em 1957 foi assinado o mais importante deles, o Tratado de Roma. que criou a Comunidade Econômica Europeia (CEE).
A Guerra Fria
A influência soviética na Europa oriental logo após a guerra foi vista com temor por W. Churchill, que criou em 1946 o célebre conceito de "cortina de ferro" para identificar os países europeus sob o poder da URSS.
Definia-se na Europa a formação de um bloco capitalista ocidental, favorável aos EUA, e de uma aliança de países na região oriental, vinculada à URSS. Gradativamente esse quadro político se reproduziria por todo o planeta, dividindo-o em dois blocos geo-políticos (Oeste x Leste) e ideológicos (capitalismo x comunismo).
O clima de cooperação internacional surgido no imediato pós-guerra começava a ruir. Cada vez mais, os EUA e a URSS preparavam-se para isolar o "inimigo" e para o enfrentamento. Por isso, nesse quadro tenso de bipolarização, os dois países iniciaram uma verdadeira corrida armamentista, desenvolvendo principalmente a tecnologia atômica para uso militar, ou seja, as armas nucleares.
Assim, EUA e URSS desencadeavam uma nova forma de conflito: como as duas superpotências nucleares não podiam se confrontar militarmente, sob pena de se autodestruírem, os dois países iniciaram uma ''guerra fria", um imenso jogo político em que eles estabeleciam as regras e alianças ou então sustentavam indiretamente guerras em todas as partes do planeta.
Com a radicalização das posições, os EUA criaram em
De seu lado a URSS criou, para se contrapor ao Plano Marshall, o Comecon (1949), uma espécie de conselho econômico voltado para a integração e o desenvolvimento do bloco socialista. Em 1955 formalizou um pacto militar que já existia de fato entre os países do Leste europeu: o Pacto de Varsóvia.
Alguns fatos de ordem externa e interna colaboraram para radicalizar o clima político internacional. No plano externo vários acontecimentos colocaram os EUA e a URSS em campos opostos. Esse tipo de conflito das superpotências em um terceiro país se repetiria inúmeras vezes em diversos continentes.
Esse cenário internacional tenso teve reflexos na ordem política interna dos dois países. Na década de 1950 houve nos EUA o fortalecimento de posições mais conservadoras, desencadeando ações como o macartismo, uma verdadeira "caça às bruxas" a supostos "esquerdistas" comandada pelo Comitê contra as Atividades Antiamericanas, liderado pelo senador Joseph MacCarthy.
A Coexistência Pacífica
Inúmeros fatos ocorridos nas décadas de 1950 e 1960 levaram as superpotências a uma nova relação, que deveria estabelecer a convivência "pacífica" entre os dois países.
A morte de Stalin em 1953 e a ascensão de Nikita Kruschev, novo secretário-geral do PCUS, foram muito importantes porque produziram algumas mudanças na URSS. Kruschev denunciou no XX Congresso do PCUS (1956) os crimes e desmandos de Stalin, criando um constrangimento internacional entre os comunistas e, conseqüentemente, dissidências nos PCs e novas correntes socialistas.
Além disso, ele iniciou uma pequena abertura para o diálogo e negociações com o Ocidente capitalista, que apontava para a necessidade da convivência pacífica. Naquela oportunidade ele afirmou a necessidade de uma política de coexistência pacífica.
Sua política também se voltou para o chamado Terceiro Mundo, deslocando o eixo geopolítico para América Latina, África e Ásia.
Todavia, apesar da sensível mudança, a URSS não abria mão da hegemonia e, sobretudo, do controle do bloco comunista. Suas relações com o Leste europeu se mantiveram (Pacto de Varsóvia) duras e intervencionistas: quaisquer manifestações de autonomia ou flexibilização dos regimes comunistas na região foram fortemente reprimidas, como na Hungria (1956) e na Tchecoslováquia (1968).
Nos EUA também ocorreram fatos importantes que modificaram suas relações com a URSS. Em 1953 foi eleito o general Eisenhower, que iniciou uma tímida política de relaxamento das relações entre os dois países. No entanto, temendo o avanço comunista na Ásia, os EUA procuraram algumas alianças bilaterais na região para contê-lo. Segundo essa política, qualquer desequilíbrio de poder levaria todo o continente para a influência soviética e chinesa, e, por isso, era preciso manter esse poder a todo custo. Entretanto, muitas vezes a guerra indireta foi a alternativa para tentar resolver os conflitos na região (como no Vietnã e na Coréia).
A eleição do líder do Partido Democrata John F. Kennedy, em novembro de 1960, também anunciava um passo importante para a distensão política entre os dois países, pois o novo presidente dos EUA tinha ideias e posições mais liberais. Mas as expectativas de uma política de distensão logo desapareceram por causa de três acontecimentos que colocaram em perigo a coexistência pacífica:
· a invasão da baía dos Porcos (1961) — Logo após a Revolução Cubana, que instaurou um regime comunista na ilha, agentes da CIA (órgão de informação e espionagem norte-americano) e exilados cubanos desembarcaram em Cuba para derrubar o governo de Fidel Castro, mas foram derrotados.
· o problema dos mísseis nucleares (1962)— O governo Kennedy descobriu a instalação de mísseis nucleares soviéticos em Cuba, ameaçando a segurança dos EUA, o que gerou uma das crises mais graves da década, abalando as relações entre as duas superpotências.
· a construção do Muro de Berlim (1961)— Como já sabemos, a cidade de Berlim estava dividida em duas áreas: a ocidental (capitalista) e a oriental (comunista); em razão do contexto internacional e para impedir as fugas da parte oriental, foi construído um muro com
John Kennedy foi assassinado em novembro de 1963; Lyndon Johnson terminou seu mandato com uma política de "escalada militar" no Vietnã. Nas duas eleições seguintes (1968 e 1972) foi eleito o republicano Richard Nixon, que manteve a política de coexistência pacífica e iniciou a retirada das tropas norte-americanas do Vietnã.
No início da década de 1970, Nixon e seu chanceler Henry Kissinger ampliaram a política de distensão, implementando uma política de aproximação com a China, aproveitando o rompimento dos chineses com a URSS (também conhecida como diplomacia triangular — EUA, URSS e Chiaa). Vários encontros foram mantidos, mas somente em 1979 os dois países restabeleceram oficialmente as relações diplomáticas. Nesse meio tempo Nixon foi obrigado a renunciar (1974) por causa do escândalo Watergate (assessores e agentes próximos ao presidente se envolveram em trama de espionagem em torno do Partido Democrata; o episódio revelou um grande esquema de corrupção na máquina administrativa dos EUA).
Além dos fatores vinculados diretamente às relações entre URSS e EUA, outros países começavam a despontar como potências nucleares. A tecnologia da energia nuclear e, principalmente, da bomba atômica já era conhecida por Inglaterra (detonou pela primeira vez uma arma nuclear em 1952), França (1960), China (1964) e, mais tarde, pela índia (1974), criando um imenso arsenal de armas nucleares no planeta.
O período da coexistência pacífica permitiu a elaboração de acordos bilaterais e a retomada das relações diplomáticas entre os dois países; as conferências de cúpula entre a URSS e os EUA foram produto dessa nova situação internacional.
Nessas conferências, por exemplo, houve o reconhecimento do grande arsenal mundial de armas nucleares e sua infinita capacidade destruidora. Por isso, iniciou-se uma tímida política de controle das armas nucleares mediante acordos bilaterais, como nos planos SALT l (1972) e 2 (1979), ou multilaterais, como o Tratado de Moscou (1963) e o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares (1968).
As iniciativas de caráter geral impediram ou dificultaram, de um lado, a transferência de tecnologia nuclear para qualquer país; de outra parte, permitiram que o poder bélico e destrutivo continuasse concentrado nas mãos de poucos países. Os acordos bilaterais acabaram gerando mais tarde a política de desarmamento desenvolvida na década de 1980 e concretizada parcialmente pelo secretário-geral do PCUS naquela época, Mikhail Gorbachev.
Na passagem da década de 1950 para a de 1960 as disputas entre URSS e EUA chegaram ao espaço. No final da década de 1950 os dois países começaram a financiar de maneira maciça a produção de tecnologia para grandes projetos espaciais. Surgiram nesse processo centros de pesquisas espaciais, como a NASA (EUA — 1958), e projetos como o soviético Lunik e o norte-americano Apollo, que lançaram satélites e sondas ao espaço.
A corrida espacial foi freada durante a década de 1980; os pesados investimentos espaciais diminuíram bastante em razão da falta de resultados práticos e especialmente por causa dos problemas econômicos internacionais e internos dos dois países.
Um comentário:
Parabéns Felipe muito boa esta sintese.
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