Esses movimentos ocorreram de forma e em momentos diferentes; alguns aconteceram no final da década de 1940 (Índia, por exemplo) e outros se estenderam até meados da década de 1970 (países da África central). Se alguns movimentos de independência ou nacionalistas começaram antes da Segunda Guerra, os resultados concretos começaram a surgir somente na década de 1950. Na realidade, eles tiveram uma aceleração significativa a partir de 1955, após a Conferência de Bandung, na Indonésia.
Nessa Conferência, na qual se reuniram países da África e da Ásia, alguns pontos consensuais foram acertados. Procurou-se criar uma política própria e específica dos países pobres, independente dos interesses políticos das superpotências; na disputa entre elas, esses países deveriam se manter neutros. Surge daí a definição de países pertencentes ao Terceiro Mundo (embora o termo já fosse utilizado desde 1952), aqueles que procuravam uma política de neutralidade em relação aos países capitalistas, liderados pelos EUA (Primeiro Mundo), e socialistas, liderados pela URSS, (Segundo Mundo), apontando para uma política de não-alinhamento. A defesa do desarmamento mundial e a reafirmação da igualdade entre as raças também fizeram parte de suas resoluções.
Outros encontros de países terceiro-mundistas foram realizados, incorporando países da América Latina; entretanto, os resultados eram pouco eficientes no quadro político internacional. O movimento dos países do Terceiro Mundo teve impacto também no universo intelectual. Alguns teóricos tentaram formular um conceito e tipologia para caracterizar os países terceiro-mundistas. Os critérios, que de forma indistinta "uniam" países totalmente diferentes, de vários continentes, como Brasil, lugoslávia, Egito e India, acabaram estabelecendo como características: economia agrícola e fraca industrialização; dependência do capital e tecnologia dos países centrais (Primeiro Mundo); elevado crescimento demográfico com predomínio das populações rurais; proliferação da pobreza, altas taxas de analfabetismo, subnutrição e mortalidade infantil; pouca tradição democrática das instituições políticas, que via de regra implicava governos autoritários. Os resultados positivos da ação conjunta através da Conferência de Belgrado surgiram nos movimentos de independência que proliferaram, principalmente na África, durante a década de 1960.
A partir da década de 1970, as diferenças entre esses países tornaram-se mais evidentes no campo econômico com a emergência dos países produtores de petróleo, "tigres asiáticos", etc. Alguns analistas preferiram denominar essa nova realidade como o "Quarto Mundo", no entanto, o desmoronamento da URSS e do Leste europeu colocou fim ao "Segundo Mundo", invibializando totalmente esse tipo de classificação e conceito.
ÁSIA
A Índia
Logo que terminou a Primeira Guerra, desenvolveu-se na India um forte movimento nacionalista contra a Inglaterra. O Partido do Congresso, liderado por Mahatma Gandhi e Jawaharlal Nehru, comandou um movimento que se tornou famoso no mundo inteiro.
As características da luta contra o imperialismo inglês desenvolvidas por Gandhi no período entreguerras baseavam-se na ideia da não-cooperação e não-violência. O objetivo fundamental era resistir à dominação da Inglaterra, deixando de cooperar com os ingleses e com as instituições coloniais e não reagindo à violência. Como exemplo de resistência e desobediência civil, Gandhi jejuava, não cumpria as leis coloniais e fazia marchas pacíficas pela Índia.
Após muita repressão, luta e concessões por parte da Inglaterra, a independência da Índia aconteceu em agosto de 1947. Entretanto, as disputas religiosas entre hindus, sikhs e muçulmanos, que já haviam dificultado a independência, dividiram o país, com a criação do Paquistão (muçulmano). Mais tarde o Paquistão seria subdividido com o surgimento de Bangladesh (1972).
Foi nesse contexto de radicalização político-religiosa que Gandhi foi assassinado, em 1948, por um fanático muçulmano que o culpava pela divisão do país. Jawaharlal Nehru (amigo e seguidor de Gandhi, foi o primeiro chefe político da Índia independente, governando-a até 1964) assumiu definitivamente a direção do país e procurou desenvolver internamente a Índia. Ele também teve um papel muito importante no cenário político internacional, pois defendeu a política de neutralidade e a necessidade de construir uma terceira via de desenvolvimento, como alternativa ao socialismo e ao capitalismo. No entanto, a partir da década de
Até hoje a índia convive com sérias dificuldades sociais, como a superpopulação e a miséria, além dos problemas políticos e religiosos.
A China
A China, durante o imperialismo do século XIX, esteve ocupada por diversos países europeus e teve que enfrentar o expansionismo do Japão no final do século (Guerra Sino-Japonesa, 1894-95).
A independência só se concretizou com a proclamação da república em 1912. Todavia, isso não significou a plena autonomia do país, que continuou sob a pressão dos interesses imperialistas dos EUA e do Japão, dividido e com graves dificuldades econômicas e sociais.
As disputas políticas internas também se evidenciaram no final da década de 1920 com os confrontos entre o Partido do Kuomintang (republicano), liderado por Chiang Kai-shek, e o Partido Comunista, comandado por Mao Tsé-tung. A radicalização desse processo produziu uma verdadeira guerra civil. Em 1934 o exército popular (Exército Vermelho) realizou a Longa Marcha, chefiada por Mao Tsé-tung e
Com as novas invasões japonesas no final da década de 1930 e o início da Segunda Guerra Mundial, os partidos do Kuomintang e Comunista se uniram em uma frente de defesa da China. A resistência foi liderada pelo Exército Vermelho, que conseguiu ampliar suas bases. Nesse período, Mao Tsé-tung formula as ideias básicas sobre a possibilidade da revolução socialista nos países de passado colonial.
Após o final da guerra (1945), a aliança entre o Kuomintang e os comunistas se desfez, dando lugar a novo confronto armado: de um lado as tropas do Kuomintang, apoiadas pelos EUA, e do outro o Exército Vermelho, organizado pelo Partido Comunista, tendo à frente Mao Tsé-tung.
A luta terminou em 1949 com a vitória dos comunistas, que proclamaram a República Popular da China, tendo na presidência Mao. Chiang Kai-shek fugiu para a ilha de Formosa(Taiwan), organizando um governo independente, apoiado pelos EUA.
O governo chinês se aproximou inicialmente da URSS, fortalecendo o bloco socialista (URSS e Leste europeu). Mao realizou uma reforma agrária, socializou os meios de produção, nacionalizou bancos e grandes empresas, expulsou estrangeiros e desenvolveu o ensino básico.
Na década de 1960 os projetos da China estavam envolvidos com o aprofundamento do comunismo (o Grande Salto à Frente), o aumento da produção e o desenvolvimento de seu arsenal nuclear; ou seja, os chineses pretendiam se tornar mais uma superpotência no bloco socialista. Sob o discurso das diferenças ideológicas no campo do marxismo, China e URSS afastaram-se basicamente em razão dessas intenções expansionistas e nucleares dos chineses.
A resistência soviética ao projeto nuclear chinês provocou o fim das relações sino-soviéticas (o cisma sino-soviético) e iniciou o período de isolamento internacional da China.
Nessa fase de isolamento, Mao Tsé-tung realizou a Revolução Cultural, radicalizando o processo de aprofundamento do comunismo. A economia foi fechada ao estrangeiro, dirigentes mais moderados do PC foram expurgados e desmoralizados, a ideologia do Estado chinês era imposta à força e controlada por organizações radicais de jovens maoístas.
Na década de
Com a morte de Mao Tsé-tung em 1976 desenvolveu-se uma longa luta entre as correntes do PC chinês. O segmento mais moderado, liderado por Hua Kuo-feng e Deng Xiaoping, saiu vitorioso, afastando do poder o "Bando dos Quatro", entre os quais a viúva de Mao, Chiang-Ching.
Começou nesse período uma real abertura com o Ocidente, que se efetivou no governo de Zhao Ziang, após a renúncia de Hua Kuo-feng em
Coréia
Desde o início deste século a Coréia foi um país ocupado por outras nações, principalmente por causa da sua localização estratégica no Extremo Oriente, entre a China e o Japão. Ela foi ocupada pelo Japão em 1905 e anexada formalmente em 1910. Em 1945, após o final da Segunda Guerra, com a derrota japonesa no Oriente, foi ocupada pelos EUA e pela URSS
Em razão dos interesses soviéticos e norte-americanos na região, em
Em
Indochina e Indonésia
A península da Indochina, composta por países como Vietnã, Camboja e Laos, foi uma colônia francesa, também ocupada pelo Japão na Segunda Guerra.
Após a guerra, um movimento de independência liderado por Ho Chi Minh libertou o norte do Vietnã, instaurando um governo comunista na cidade de Hanói. A região Sul foi devolvida à França, que não conseguiu deter as manifestações nacionalistas. Em
Somente em 1954, após o término dos conflitos internos, o Acordo de Genebra estabeleceu a divisão do Vietnã no paralelo 17: ao sul a República do Vietnã do Sul (capital Saigon), pró-ocidental, e ao norte a República Democrática do Vietnã (Vietnã do Norte, capital Hanói), de perfil comunista. Nesse momento a França reconheceu também a independência do Laos e do Camboja.
Contudo, a política das potências na região era a de não perder posições e não permitir o avanço do inimigo. De acordo com essa estratégia, a oficialização no poder de um comunista no Vietnã do Norte (Ho Chi Minh), em 1954, representava um desequilíbrio.
Assim, em 1960, procurando reverter suas posições no Extremo Oriente, apesar do desgaste na Guerra da Coreia, o governo norte-americano resolveu apoiar política e militarmente o Vietnã do Sul, dando início aos conflitos na região. O presidente John Kennedy não poupou ajuda financeira e militar aos sul-vietnamitas e seu sucessor, Lyndon Johnson, aumentou a "escalada militar" no Vietnã.
Durante anos os EUA, através do Vietnã do Sul, procuraram derrubar o regime comunista do Vietnã do Norte. A guerra atingiu também o Laos e o Camboja, que foram ocupados pelos EUA e por guerrilhas nacionalistas e de esquerda. A força bélica e tecnológica norte-americana sucumbiu diante da eficiente guerrilha vietcongue (guerrilheiros do Vietnã do Norte) e do apoio da população aos guerrilheiros. O acordo de paz foi negociado por Henry Kissinger em 1973, mas os conflitos se prolongaram até 1975 no Laos e no Camboja.
Os custos financeiros, materiais e sociais da guerra causaram enorme trauma na sociedade norte-americana. As reações internas à guerra surgiram já em meados da década de 1960 e os problemas se avolumaram. Richard Nixon foi eleito em 1968, por exemplo, com a promessa de terminar a guerra. As derrotas militares e as pressões internas obrigaram os EUA a manter um outro tipo de posicionamento internacional, favorecendo o diálogo.
Os conflitos no Vietnã terminaram com a derrota e a retirada dos EUA, mas o país, mesmo unificado, continuou com sérios problemas políticos internos e com grande dificuldade para empreender a reconstrução.
A Indonésia, um arquipélago no sudeste da Ásia, foi uma colónia holandesa invadida pelo Japão durante a Segunda Guerra. No final do conflito, uma frente política nacionalista proclamou uma república independente, sob o comando de Achmed Sukarno. Inicialmente ela se aproximou da política de não-alinhamento, mas em 1965 o fortalecimento de movimentos de esquerda acarretou um sangrento golpe comandado pelo general Suharto, de posições pró-ocidentais.
A ÁFRICA
Os primeiros movimentos em favor da libertação dos países africanos se iniciaram no entreguerras, mas foi logo após o fim da Segunda Guerra que os processos emancipacionistas se multiplicaram por todo o continente.
É preciso levar em conta que a ocupação européia na África é bastante antiga e remonta aos séculos XV e XVI. No século XIX ela foi toda dividida em possessões e colônias da Europa. Além disso, é preciso salientar que o continente é extremamente heterogêneo em termos étnicos, culturais e econômicos e isso se refletiu nos movimentos de libertação (o norte da África é branco e muçulmano e a África central essencialmente negra). Esses movimentos se concentraram basicamente em dois períodos, a década de 1960 e a de 1970.
Os movimentos de independência no norte da África começaram durante a década de 1950, e seus resultados práticos surgiram nos anos 60. De modo geral eles se organizavam em frentes políticas e militares de combate aos países colonizadores europeus e mantinham perfil nacionalista, como no caso da Argélia (ocupada pela França). Geralmente, depois do período de guerrilha e luta contra as tropas européias, as diversas correntes políticas internas iniciavam uma disputa pelo poder, colocando em risco a estabilidade política do país.
Após a independência ou o reforço das correntes nacionalistas, países importantes na região, como a Argélia (1962) e o Egito (1953), respectivamente, foram fundamentais para o desenvolvimento da política de não-alinhamento e de ações conjuntas entre nações terceiro-mundistas.
A África Negra
A África Negra é composta pela esmagadora maioria dos países do continente, com exceção apenas do Norte. Os processos e lutas de libertação nessa extensa área começaram no final da década de 1950, quando os países europeus já haviam se enfraquecido, e estenderam-se até a década de 1970, com a autonomia das colônias portuguesas.
A Inglaterra foi reconhecendo lentamente a independência de suas colônias de
Outras colônias européias também se libertaram nesse período e muitas delas passaram por graves conflitos internos, muitas vezes vinculados às disputas entre as duas superpotências, como o Congo Belga, atual República Democrática do Congo. Os graves problemas econômicos e sociais e as interferências políticas externas acabaram atrasando ainda mais o desenvolvimento autônomo desses países, que continuam até hoje em situação de miséria.
Antiga colônia holandesa, depois ocupada pelos ingleses, rica em minério e pedras preciosas, adotou uma política de segregação racial que assumiu uma face legal e institucional por meio do sistema do apartheid. Baseado na ideia de inferioridade racial dos negros, a maioria negra estava submetida a áreas preestabelecidas e a uma cidadania de segunda classe.
As antigas colônias portuguesas na África foram as últimas a conquistar a autonomia. Guiné-Bissau, Moçambique e Angola chegaram à independência em 1974 e em 1975. Um fato importante que colaborou diretamente para esse processo foi a Revolução dos Cravos em Portugal, que terminou com o regime autoritário de Salazar.
Nesses países, após a independência, ocorreram guerras civis, em que as correntes opostas foram apoiadas pelas duas superpotências. As organizações vitoriosas aproximaram-se da URSS e os contra-revolucionários mantiveram-se com o apoio dos EUA ou da África do Sul. Em Angola e Moçambique, as lutas entre as correntes políticas permaneceram até a década de 1980.